
É fato que usamos normalmente um esquema de economia psíquica onde nos afastamos daquilo que nos é desprazerozo. Uma vez que a elaboração da morte é algo extremamente denso é compreensível que ninguém, de bom grado, se proponha a pensar detidamente sobre a morte, a não ser que seja forçado a isso com a morte de alguém de suas relações ou quando a pessoa está acometida de uma enfermidade cuja perspectiva de morte é um cenário menos distante. Segundo Freud: “Nada que se assemelhe à morte jamais pode ter sido experimentado." Será por isso que o desamparo com o qual nos deparamos no luto é tão intenso? Não temos referência de nada tão terrível? Economizamos aqui para gastar aonde é inevitável: no momento em que percebemos que alguém querido se foi. Aí temos um trabalho e tanto pela frente: lembrar para esquecer. É como se a pessoa montasse cuidadosamente um belo ramalhete com três rosas: as lembranças queridas, a rotina presente e os planos futuros, e de repente, uma mão invisível viesse e arrancasse essas rosas deixando quem ficou apenas com seus caules. A semente para ressignificar a sua própria vida continua ainda ali, mas está tudo despedaçado e sem sentido, pois o investimento foi feito “em” e “com” alguém que não existe mais.
É preciso tempo e muito trabalho emocional para primeiro “aceitar” que nada trará de volta a pessoa amada. As lembranças queridas precisam “sangrar” o suficiente para depurar a dor e deixar, na medida do possível, que a pessoa abandone a posição melancólica. Não haveria prazo para isso, mas a melanolia não pode ficar. Algumas vezes a perda implica em uma mudança radical, inclusive no que é mais sagrado para a pessoa: sua rotina. O desamparo e a necessidade de tomar decisões é algo doloroso para uma pessoa que não tem condições de decidir nem mesmo pelo trivial. Refazer a própria vida e reinvestir em planos futuros é o grande desafio.
Legal reflexão.
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